Duas décadas de cooperação científica CIRAD-ESALQ-IPEF
Anais de comemoração
Contribuição para a compreensão do funcionamento das plantações florestais tropicais de rápido crescimento
Jean-Paul Laclau - CIRAD
José Leonardo de Moraes Gonçalves - ESALQ/USP
José Otávio Brito - IPEF
Apresentação
Este documento registra a trajetória de 20 anos da cooperação científica entre França e Brasil, por intermédio do CIRAD (www.cirad.fr/en), do departamento de Ciências Florestais da ESALQ/USP e do IPEF (www.ipef.br). Tornou-se uma das mais importantes referências internacionais de cooperação científica sobre a interação ecofisiológica floresta-clima-solo em plantações de Eucalyptus e Acacias. O documento ressalta os avanços científicos e as aplicações práticas nas áreas de ecofisiologia, nutrição e fertilização florestal, que possibilitam tornar as plantações florestais mais sustentáveis.
Tudo se iniciou em 2002, com a designação do pesquisador Jean-Paul Laclau – CIRAD, para se estabelecer junto ao Departamento de Ciências Florestais – LCF, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ, da Universidade de São Paulo – USP, tendo como anfitrião o Prof. José Leonardo de Moraes Gonçalves. À época, o citado professor já atuava como líder científico do Programa Cooperativo de Silvicultura e Manejo – PTSM, do IPEF, permitindo com que Jean Paul, rapidamente, se engajasse nas pesquisas do programa.
A cooperação do CIRAD se ampliou, com outras participações de pesquisadores em diversas missões de curta e longa duração no Brasil. Sucessivamente, atuaram Yann Nouvellon, baseado no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, Guerric le Maire, na Universidade de Campinas - UNICAMP, bem como Gilles Chaix, Bénédicte Favreau, Jean-Pierre Bouillet, Agnès Robin, Joannès Guillemot e Greta Formaglio que estiveram baseados na ESALQ.
Embora a colaboração com o programa PTSM tenha continuado, durante esses 20 anos, o envolvimento dos pesquisadores do CIRAD se estenderam ao Programa Cooperativo sobre Produtividade e Fluxos de Carbono e Água em Eucalyptus - EUCFLUX (www.ipef.br/eucflux2), criado no IPEF, em 2017. O programa foi estabelecido com o objetivo de quantificar os principais fluxos dos ciclos de carbono, água e nutrientes ao longo de uma rotação completa de eucaliptos em plantações comerciais. O programa EUCFLUX foi coordenado, incialmente, pelo Professor José Luiz Stape, até então vinculado à ESALQ/USP e, posteriormente, pelo Prof. Otavio Campoe, da Universidade Federal de Lavras - UFLA.
Deve-se também destacar o envolvimento de vários professores e estudantes da Faculdade de Estudos Agronômicos – FCA da Universidade Julio de Mesquita Filho – UNESP, além de profissionais das empresas do IPEF, que durante todo esse tempo ofereceram todo o apoio aos trabalhos de pesquisa desenvolvidos em larga escala nos programas, em várias regiões do Brasil.
Em se tratando de sites experimentais, muitas pesquisas foram desenvolvidas junto às Estações Experimentais de Ciências Florestais da ESALQ/USP, localizada no município de Itatinga, no Estado de São Paulo. Outros trabalhos específicos também foram realizados em empresas pertencentes ao quadro de associadas ao IPEF, podendo serem citados, dentre outros os casos do estudo de ciclos biogeoquímicos, na empresa Vallourec, MG, o monitoramento de torres de fluxo, na Fibria (atualmente, Zuzano), SP, o estudo da misturas de eucalipto e acácia, nas empresas Cenibra, MG, Suzano, ES, e International Paper, SP, este último, dentro de um projeto temático apoiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP e a Agence Nationale de la Recherche – ANR, França. Destaque importante deve ser oferecido ao EUCFLUX, com seu site experimental em Itatinga, SP, inicialmente pertencente à empresa Duratex, hoje, de propriedade da Bracell.
A contribuição do CIRAD também tem se mostrado presente junto ao IPEF, pela participação do pesquisador Jean Paul Laclau como membro do Conselho Técnico Científico do instituto, desde 2019.
A colaboração CIRAD-IPEF, ao longo desses 20 anos, ganhou um alto destaque na comunidade científica florestal mundial, pela geração de mais de 100 artigos publicados em revistas internacionais, e pela conquista de avanços significativos em muitos campos. A rápida exploração radicular de camadas muito profundas do solo por eucaliptos, a quantificação dos principais fluxos dos ciclos de carbono e água durante rotações completas, a avaliação do potencial do sensoriamento remoto para o monitoramento de povoamentos comerciais, a compreensão dos processos ecofisiológicos e biogeoquímicos nas plantações florestais, juntamente com estudos de modelagem, são alguns exemplos, os quais são destacados nos capítulos que seguem, que contribuíram e ainda contribuem para a melhoria da silvicultura em grandes áreas no Brasil.
Na prática, os resultados das pesquisas permitiram ainda a redução de custos de certas operações silviculturais, como é o caso da redução do número de fertilizações. Ajudaram ainda a melhorar a imagem das plantações de eucalipto para o público, fornecendo à comunidade internacional uma avaliação transparente do impacto ambiental do manejo florestal sobre os ciclos da água, do carbono e dos nutrientes.
Apesar dos custos significativos, sem retorno imediato do investimento, os compromissos assumidos pelo CIRAD e o IPEF, neste caso, representando empresas florestais brasileiras, tem produzido resultados destacados na pesquisa internacional sobre plantações florestais. As duas décadas de colaboração deixam um legado que permite a afirmação de que vale a pena a colaboração, que pressupõe financiamento de longo prazo, para a condução de pesquisas de ponta, dentro de objetivos comuns, gerando novos conhecimentos em prol da silvicultura.
Na comemoração dos 20 anos da cooperação CIRAD-ESALQ-IPEF, gostaríamos de agradecer a todas as instituições envolvidas na colaboração e, principalmente, aos pesquisadores e técnicos, os quais, direta e indiretamente, contribuíram e continuam a contribuir para o cumprimento das metas e o sucesso dos trabalhos desenvolvidos. Parabéns!
Série Técnica IPEF
v. 25, n. 47, p. 1-62, dezembro de 2022
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