Com mais de 68% de seu território coberto por florestas, a Suécia ocupa a segunda posição entre os países da União Europeia nesse aspecto. Não poderia haver local mais adequado para a realização do 26º Congresso Mundial da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO) com o tema principal “Florestas e a Sociedade rumo a 2050”. O congresso, que está ocorrendo de 23 a 29 de junho na capital Estocolmo, teve início no mesmo fim de semana em que se comemora uma importante celebração sueca, o Midsommar. Este festival comemora a chegada do solstício de verão com danças típicas, como aquelas ao redor do mastro de madeira, a confecção de guirlandas e decorações de lugares com flores típicas da estação. Essa tradição acolhe o evento e simbolicamente mostra ao mundo a relação da Suécia com a promoção de práticas culturais que fomentam um futuro mais verde.
A partir da abertura do evento com o discurso do rei Carl XVI Gustaf da Suécia, pelo presidente da IUFRO (2019-2024), Dr. John Parrotta, e outros dignitários, a cerimônia deu início a uma programação repleta de sessões técnicas, palestras e excursões. A fim de criar pontes e buscar soluções inovadoras para a sustentabilidade das florestas e da sociedade, aproximadamente 4.130 participantes de 120 países, incluindo formuladores de políticas, estudantes, profissionais e pesquisadores da área, participam do evento.
O congresso possui cinco tópicos principais, sendo: i. Fortalecimento da resiliência e adaptação das florestas ao estresse; ii. Rumo a uma bioeconomia florestal responsável; iii. Biodiversidade florestal e seus serviços ecossistêmicos; iv. Florestas para sociedades sustentáveis, e v. Florestas para o futuro, e tem sinalizado ao mundo que a saída para crise climática vivenciada nos últimos anos passa pela idealização de uma cultura baseada na economia circular e carbono zero, com produtos renováveis e processos verdes, que integram tecnologias inovadoras e limpas, a inteligência artificial, o manejo florestal sustentável e as pessoas.
É neste contexto, que o congresso mundial de florestas trouxe diversas palestras de especialistas que pavimentam a construção de um caminho sem volta para a bioeconomia. Citam-se diversos estudos, incluindo aqueles que exploram processos de conversão da biomassa lignocelulósica em novos produtos de maior valor agregado, como o aproveitamento de cascas de árvores para a obtenção de extratos lipofílicos e hidrofílicos com diversas aplicações na indústria farmacêutica e cosmética.
Para as operações florestais, a novidade está por conta da empresa AirForestry, que lançou o desbaste de florestas europeias a partir de drones (youtube.com/watch?v=Ucz-7NnapyA). A tecnologia além de remover os galhos e folhas, que permanecem na floresta para ciclagem de nutrientes, evitam também, o tráfego de máquinas de colheita e arraste de toras, reduzindo drasticamente o seu impacto no solo.
Sistemas computadorizados com tomadas de decisão por inteligência artificial são novas ferramentas emergentes no manejo florestal, especialmente nas florestas temperadas, onde ocorre o aproveitamento completo do fuste da árvore. As toras de maiores diâmetros são direcionadas para a produção de madeira serrada, enquanto as de menores diâmetros são utilizadas na produção de polpa celulósica. As árvores tortuosas e os resíduos como galhos e folhas são destinados à bioenergia, sendo estes picados e encaminhados para termoelétricas locais. Tudo isso dentro de uma floresta com predominância de três espécies arbóreas e caracterizadas por longos períodos de rotação (tempo do plantio até a colheita final) variando de 65-100 anos para Picea spp. (spruce), 75-150 anos para Pinus spp. (pine) e 40-60 anos para bétula (birch), que possuem um incremento médio anual de 5 a 8 m3ha-1ano-1.
No que tange a interação de florestas e pessoas, o melhor exemplo ficou pelo conceito do primeiro parque urbano nacional do mundo, o Skansen (www.skansen.se), que abriga um zoológico, um museu ao ar livre, vilas antigas, e agora a árvore de Quercus suber, plantada em alusão a passagem do congresso no país em 2024.
Rodeada ainda por construções de madeira, embalagens de papel para diversos usos, utensílios em madeira, somada a um sistema educacional de alta qualidade (sobretudo para as crianças), empresas florestais inovadoras, transporte público eficiente, presença de carros híbridos e energia elétrica produzida a partir da biomassa - crucial para enfrentar os rigorosos invernos (com temperaturas registradas abaixo de -40ºC em janeiro deste ano), Estocolmo, um milhão de habitantes e as florestas se misturam em bairros e ilhotas, mostrando uma sociedade que aprendeu a levar em conta suas características locais (clima e espaço). Assim, embora visto como utopia por muitos, a busca por uma sociedade resiliente e sustentável está se tornando cada vez mais real, especialmente para os povos nórdicos e pode ser um exemplo a ser seguido pelo resto do mundo.
Humberto de J. Eufrade Junior
ESALQ-USP
26/06/2024